Ajeitou o cabelo à miúda e limpou-lhe melhor os cantos da boca ainda alaranjados do sumo das duas únicas laranjas existentes na fruteira e que ela lhe tinha acabado de espremer.
Saiu de casa sem ter ninguém de quem se despedir. Partiu livre por fim. Partiu livre mas não ia feliz.
Meteram-se no carro e na auto-estrada uma vez mais. A pequena adormece e fica o rádio ligado para não deixar soar em murmúrio que fosse, os pensamentos dela. Os pensamentos… quem os controla? Demasiado perigosos para a hora e o local. E a paisagem negra só porque é noite, fica-lhe para trás vertiginosamente enquanto ela avança para o vazio.
Apresentou-se-lhes para o fim-de-semana com um ar desolado e desarranjado. Como condenado a caminho da forca. Tentou sorrir mas a sua tristeza mal disfarçada por um sorriso também triste não passou despercebida a ninguém.
Pouco falou e estava ali a cumprir a pena. A pena de estar viva e de ser mãe. Faz aquilo e isto e tudo o resto pela filha. Para ela é já tarde e os portões estão fechados e o caminho vedado. E as forças que lhe restam são já insuficientes porque ela baixou os braços e não os consegue nem quer levantar.
Sorrisos sarcásticos de quem se julga inatingível por certos dramas fizeram-na esforçar-se por conter as lágrimas que se acumularam em forma de nó difícil de desfazer na garganta. Incompreendida e só, foi como se sentiu. Uma imensa solidão*. E sentiu a dor, aquela que a acompanha há décadas e que ninguém compreende. Nem sequer ela…
Ana
Saiu de casa sem ter ninguém de quem se despedir. Partiu livre por fim. Partiu livre mas não ia feliz.
Meteram-se no carro e na auto-estrada uma vez mais. A pequena adormece e fica o rádio ligado para não deixar soar em murmúrio que fosse, os pensamentos dela. Os pensamentos… quem os controla? Demasiado perigosos para a hora e o local. E a paisagem negra só porque é noite, fica-lhe para trás vertiginosamente enquanto ela avança para o vazio.
Apresentou-se-lhes para o fim-de-semana com um ar desolado e desarranjado. Como condenado a caminho da forca. Tentou sorrir mas a sua tristeza mal disfarçada por um sorriso também triste não passou despercebida a ninguém.
Pouco falou e estava ali a cumprir a pena. A pena de estar viva e de ser mãe. Faz aquilo e isto e tudo o resto pela filha. Para ela é já tarde e os portões estão fechados e o caminho vedado. E as forças que lhe restam são já insuficientes porque ela baixou os braços e não os consegue nem quer levantar.
Sorrisos sarcásticos de quem se julga inatingível por certos dramas fizeram-na esforçar-se por conter as lágrimas que se acumularam em forma de nó difícil de desfazer na garganta. Incompreendida e só, foi como se sentiu. Uma imensa solidão*. E sentiu a dor, aquela que a acompanha há décadas e que ninguém compreende. Nem sequer ela…
Ana
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* Definições de “solidão” dadas por Chico Buarque numa entrevista a um jornalista:
Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsivamente... Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância! Solidão é muito mais do que isto...
SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.
2 comentários:
Caminhando no meio da multidão
num dia de calor ardente
vejo alguém que está na solidão
no meio de toda aquela gente
Olho em volta á procura desse alguém
para lhe dar apoio e amizade
dou comigo na solidão também
como é triste esta sociedade
Um abraço, Ana ,boas corridas.
Então solidão é desespero...
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