Correr...Decidir fazer a Transestrela a 9 de Agosto de 2003, ainda estávamos no início de Abril.
A preparação começou bem. Os treinos foram aumentando de frequência, intensidade e duração.
Faço séries de 2 km, fartleks, sessões longas. Treino na praia, no pinhal, na pista, na relva e na estrada.
Tendo em vista a maratona de montanha, o Monsanto foi o local predilecto para as sessões longas.
Até que aquilo que mais temia se volta a repetir. Após uma sessão longa de 3h10m, eis que surge na tíbia direita uma ligeira dor difusa. Bem conhecida por mim, infelizmente. Talvez seja uma impressão, tento iludir-me mas no treino seguinte a dor já não é difusa, está lá, e pela infeliz experiência que já tive, sei que o diagnóstico é só um: fractura de stress.
Insisto em mais um treino, mas a situação só se agrava. Não pode ser, não posso acreditar que tudo se repita! O sonho tem de acabar? Falta pouco mais de um mês para a maratona e o repouso que possa ter não cura a lesão e perco todo o treino necessário que já tinha.
Talvez...talvez se fizer a prova muito, muito devagar, consiga. Talvez se colocar aqueles produtos anti-dor, tipo gelo em pó, eu consiga suportar as mais de 4 horas a correr em tão duras condições. Talvez consiga. Contra tudo e contra todos, inscrevo-me.
Parei mais de 2 semanas e volto a treinar. Falta uma semana para a prova. 50 minutos e acabo a coxear. Vai ser impossível!
O sonho acabou.
Chego a casa e a Organização tinha enviado nesse dia mais detalhes sobre a prova. Logo hoje!
Choro. De raiva, de pena, de desgosto, eu sei lá, e com as lágrimas nos olhos reenvio o e-mail dizendo que o meu dorsal estava à disposição, pois eu não ia poder correr.
Dias depois eram 5.30hrs da manhã, e via nascer o dia na Serra da Estrela. Vi as pedras acordarem, saindo da escuridão e tomando forma, e tive a oportunidade maravilhosa de participar na maratona, desta vez de uma forma totalmente nova para mim: estive nos abastecimentos e percorri a serra de jeep. Vi os caminheiros e os atletas, e num misto de inveja e felicidade, revi-me neles. E nos seus rostos cansados mas felizes, nas palavras e olhares trocados, no suor que lhes escorria pelo corpo, no pó e na alegria que transportavam e transmitiam, eu arranjei de novo forças, para mais uma vez começar tudo de novo.
Ana Pereira - 2003
Histórias, algumas reais
sexta-feira, 4 de abril de 2008
A Maratona que não fiz - Transestrela - Agosto 2003
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2 comentários:
A vida e mesmo assim,as vezes prega-nos algumas partidas.
Resta-nos ter a esperança, que para a próxima vez, tudo vai correr pelo melhor.
Bons treinos.
Olá Nuno,
vejo que já deixaste aqui mais que um comentário o que muito agradeço, assim como a visita e a leitura atenta.
No entanto, este blog é apenas uma "caixa" onde guardo/arquivo textos mais antigos.
Se tiveres curiosidade ou interesse, o blog que hoje é meu diário, quase diário, de corrida e não só é o
http://www.mariasemfrionemcasa.blogspot.com/
Serás lá muito bem vindo e sempre está relativamente actualizado face às provas e treinos que vou fazendo.
Mais uma vez, obrigada pela visita
Ana Pereira
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