Histórias, algumas reais

sábado, 5 de março de 2011

Não nos cortem as pernas - Almada

Pista Municipal de Almada

" Não nos cortem as pernas "

Maria Augusta é mãe e dona de casa no tempo que lhe resta depois das oito horas de trabalho no escritório onde ganha o pão. No Outono, já chega a casa de noite, e mesmo assim, equipa-se e vai dar a sua corridinha diária. Só ela sabe o que a corrida lhe faz bem! Contra todas as dificuldades, aquela horinha a correr dá-lhe a força necessária para enfrentar a sua vida difícil.

Treina na estrada a Maria Augusta, como na estrada faz Provas, desde a Milha à Maratona. Mas gosta também de treinar na pista, a rolar na relva, ou a fazer series, cronometrando os tempos (treino específico, tantas vezes referido no folheto Informativo da Pista Municipal de Atletismo de Almada!).

Agora já é quase Inverno, ela sai de casa e em cinco minutos de trote está na pista da Sobreda, que lhe oferece segurança, iluminação, e todas as condições para a prática da corrida, quer sejam series, ou um simples jogging na relva.

Mas a partir de 30 de Setembro de 2002, a Pista da Sobreda interditou a entrada a atletas como a Maria Augusta! Agora é só para atletas acreditados (?). E a Maria Augusta não é uma atleta acreditada!

Assim, à hora em que lhe é possível treinar, não pode entrar na pista! Mesmo pertencendo a um clube do concelho de Almada, participando no Troféu desse concelho, nem ela, nem nenhum dos atletas desse clube pode treinar na pista à hora nobre! Interessante é ser negada a autorização a atletas desse clube, e ter sido dito ao seu dirigente, que, se o clube tinha atletas que participavam em provas de estrada, então que fossem treinar para a estrada!

E é para a estrada que Maria Augusta vai correr das oito às nove da noite, debatendo-se e confrontando-se com o transito e a poluição, com a escuridão e o piso traiçoeiro, com os cães, e com toda a insegurança, arriscando a própria integridade física como mulher que é!

O que ganha Almada, o Atletismo, e a corrida com esta medida?Alguém que me responda, que eu não encontro resposta. Mas que seja alguém que sue a camisola como eu, que treine diariamente àquela hora na pista e que nunca tenha assistido a atletas como a Maria Augusta a dificultar o treino dos atletas de alta competição! A resposta dos senhores de gravata para quem estar no pelouro do desporto significa pouco mais que um cargo, um ordenado e outras regalias, estará seguramente bem longe da realidade.

Muito mais razoável para evitar a utilização da pista por aqueles que vão para lá “brincar”, seria, por exemplo, cobrar um valor à entrada. Razoável e sensato, porque nós gastamos a pista, a relva, a água, o ar que respiramos! Façam isso, ou qualquer outra coisa, mas por favor, não nos cortem as pernas!

Ai Almada, Almada, quem é que tens à frente que não sabe amar o Desporto?


Ana Pereira, 2002

Maria Sem Frio Nem Casa